mai 30 2016
O grotesco e sua representação
O grotesco é um elemento que está presente em todas as sociedades, em todas as épocas. Faz parte da cultura de todos os povos, que lidam com ele de diferentes modos, produzindo, portanto, representações e significados diversos acerca dele. As artes plásticas, especialmente a pintura, produziram historicamente alguns exemplos em que o artista tentou capturar o disforme, o exótico, o “não-belo”, dando visibilidade estética aos horrores humanos. Penso que Guernica, de Pablo Picasso, pode ilustrar bem a representação estética do grotesco que foi a Guerra Civil Espanhola.
Mais que as Artes Plásticas, também o cinema tem buscado representar o grotesco. Dos Estados Unidos lembremos os filmes sobre autistas, alcoólatras, mendigos, cegos, todos paradigmáticos, que a Academia adora indicar e eleger para o Oscar; sem falar nos filmes trash e cults… Da Europa lembro os filmes Comendo os ricos e Kasper Hauser, entre tantos. Do Brasil, resgato Mazzaropi, a chanchada, Zé do Caixão e, mais recentemente, Matou a família e foi ao cinema.
Para Muniz Sodré, O grotesco é um olhar acusador que penetra as estruturas até um ponto em que descobre a sua fealdade, a sua aspereza. É assim que ele aparece na arte, seja literária, pictórica, musical ou fílmica. É assim que ele é pensado e proposto na estética antropofágica de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, por exemplo, nos anos ‘20, ou na de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Os Mutantes nos anos ‘60.
jun 27 2016
O movimento teatral no Brasil em 1968
A conjuntura de 1968 é constituída de contextos contraditórios que têm origem mais imediatamente no pós-guerra, quando o mundo se reconstruía em polarizações do tipo capitalismo e socialismo, desenvolvidos e subdesenvolvidos, direita e esquerda. A industrialização da cultura, sob a liderança crescente da televisão, fez com que as distâncias geográficas parecessem ser menores, e as fronteiras geopolíticas mais facilmente transponíveis. As diferenças ganharam mais visibilidade, e junto com as dicotomias maniqueístas saltou à vista uma pluralidade eloqüente: não era mais suficiente ser simplesmente a favor ou contra alguma coisa, pois apareciam outras formas, não dicotômicas, de regular as relações e perceber o mundo. Em toda a parte, as minorias redefiniam-se, no conjunto, como maioria potencial, a dos jovens, por exemplo, e questionavam a normalidade da norma. A revolução, para eles, deixara de ser apenas a luta de classes, e não lhes satisfazia a existência e rivalidade de grandes partidos políticos. A Grande Recusa de 1968, assim, foi um contundente NÃO: aos partidos oficiais, ao comunismo burocratizado, ao consumo capitalista. E foi a proposição de novos valores para um admirável mundo novo.
O teatro, as artes e a cultura em geral, receberam uma injeção de vitalidade. Tudo parecia expandir-se em criação e expressividade. Alucinógenos e outras viagens, efetuadas on the road pelo planeta, ampliaram os limites da existência-experiência. Mas foram especialmente as liberdades individuais e o contato intercultural que alargaram os horizontes estéticos e comportamentais. Conforme se escrevia nos muros de Paris, em maio de 1968, lutava-se para que a imaginação tomasse o poder, e para que se inventasse uma forma de viver em paz, como cantou John Lennon.
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By suzana • Notas •